PARECER JURÍDICO |
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"Dispõe sobre a Política Pública de Assistência Social do Município de Guaíba/RS e dá outras providências." 1. Relatório:O Executivo Municipal apresentou o Projeto de Lei nº 014/2023 à Câmara Municipal, dispondo sobre a Política Pública de Assistência Social do Município de Guaíba. A proposta foi encaminhada à Procuradoria pela Presidência para análise nos termos do art. 105 do RI. 2. Mérito:O artigo 18 da Constituição Federal de 1988, inaugurando o tema da organização do Estado, prevê que “A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.” O termo “autonomia política”, sob o ponto de vista jurídico, congrega um conjunto de capacidades conferidas aos entes federados para instituir sua organização, legislação, administração e governo próprios. A autoadministração e a autolegislação, contemplando o conjunto de competências materiais e legislativas previstas na Constituição Federal para os Municípios, é tratada no artigo 30 da Lei Maior, nos seguintes termos:
A política pública que se busca instituir se insere, efetivamente, na definição de interesse local (art. 30, I, da CF/88), pois diz respeito ao estrito âmbito do Município de Guaíba, além de referir-se aos objetivos constitucionais do art. 3º da CF/88. Com efeito, a propositura legislativa em análise tem sólido fundamento na CF/88, pois, em última análise, tutela a dignidade humana, a promoção do bem comum e a solidariedade, valores retratados como fundamentos e objetivos da República Federativa do Brasil:
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no Título VIII, que trata da “Ordem Social”, mais especificamente no Capítulo II, que ordena a Seguridade Social, estabelece que esta compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a garantir os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social (art. 194 da CF/88). Mais especificamente, o art. 203 refere que a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, tendo por objetivo a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Da mesma forma, a Lei Orgânica Municipal possui disposições que visam proteger a população quanto às necessárias medidas de assistência social a cargo do Estado, bem como estabelece o dever de combate à miséria:
A iniciativa para o processo legislativo, por sua vez, também está adequada, na medida em que o Projeto de Lei do Executivo nº 014/23 propõe a regulamentação da política pública de assistência social municipal, com considerável repercussão financeira, para o que se considera existir restrição na iniciativa legislativa devido à reserva de administração baseada na cláusula da separação de poderes (art. 2º da CF/88 e art. 5º da CE/RS). Quanto à matéria de fundo, também não há qualquer óbice à proposta. A finalidade da proposta legislativa, ao instituir a política pública de assistência social, é promover o mínimo existencial decorrente da dignidade humana, que vai ao encontro da Lei nº 8.742, de 7/12/93, o qual prevê, no art. 1º: “A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”. Além disso, segundo o art. 4º da Lei nº 8.742/1993, a assistência social é regida pelos seguintes princípios: “I – supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II – universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III – respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV – igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V – divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.” Portanto, verifica-se que o projeto é materialmente compatível com as normas de caráter constitucional e infraconstitucional que regulam a Assistência Social, nada havendo o que desabone a sua regular tramitação nesta Câmara Municipal, até mesmo porque aprovado pelo Conselho Municipal de Assistência Social (Resolução nº 012/2022), instância de controle social competente para avaliar a qualidade e a regularidade das políticas assistenciais. 3. Conclusão:Diante do exposto, respeitada a natureza opinativa e não vinculante do parecer jurídico, e assegurada a soberania do Plenário, a Procuradoria Jurídica opina pela legalidade e pela regular tramitação do Projeto de Lei do Executivo nº 014/2023, por inexistirem vícios de natureza material ou formal que impeçam a sua deliberação em Plenário. É o parecer, salvo melhor juízo. Guaíba, 13 de março de 2023. GUSTAVO DOBLER Procurador OAB/RS nº 110.114B Documento Assinado Digitalmente no padrão ICP-Brasil por:![]() 13/03/2023 15:59:11 |
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Documento publicado digitalmente por GUSTAVO DOBLER em 13/03/2023 ás 15:58:29. Chave MD5 para verificação de integridade desta publicação b37b78d4d9f34bf12c55dcbb61353cad.
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